quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

O suspiro de um sonho

(fotografia: Piotr Kowalik)

Beijava todo o meu corpo, exceto a boca. Minha boca era algo como que sagrado, era imaculada. Seus beijos eram bem tratados, como um florista cuida de flores.
Foi embora. Foi assim, como quem diz até amanhã, ou até a próxima, na esperança de nunca se cruzar na rua. Eu fiquei. Não sei como, porque fiquei. Que eu sei?


Até minha saudade é diferente todo dia
Cada sol que bebo anoitece meus olhos
Meu semblante é penumbra sobre fuligem.
Peço que cante baixo a natureza, favor.
Os sonhos, que já não sonho, comprimem minha cabeça.
Eles berram de fora de mim: deixe-nos existir.


Ah, Deus, existir. Existir é só o que pedem.
Nem felicidade no fulgor da noite, nada.
Há de valer um sonho que nada quer?




Abimael Oliveira

domingo, 11 de dezembro de 2011

Com o vazio dela


(fotografia: José Luís Espada Feio)

Ei amor, já te contei a paixão de minha pena?
Louca de amores por ti, agora está de caso
Com um vento.
Ela jura que só sussurra teu nome
Em tom de oração
O vazio, o pranto, a solidão
Confesso que amo mais essa metáfora
que a mim mesmo
que a ti mesmo
que a teu rosto em meus sonhos, teu nome em meus lábios, chamando a todos por ti.

A um bom tempo te busco e pelo mesmo tempo não te encontro.
Em meu avesso, no fim de tudo, no começo!
Ó vento, devolvo a ti o sopro de minha vida,
levas como prova de meu amor, e entrega a minha querida
Diga a ela que já vou!
Pois de nada vale sofrer na vida, se não se pode morrer de amor.


Abimael Oliveira e Arlone Almeida

domingo, 27 de novembro de 2011

Com a distância dela

Morro em delírios, mil por mil
Idéias morrem e nascem em mim.
Me dei todo, de uma vez
Talvez pouco eu seja, talvez
Não seja claro o infinito que te quero,
Caso por caso.


Abimael Oliveira    

quinta-feira, 17 de novembro de 2011

Dizem que as lágrimas são o sangue do coração,
eis que meus olhos coagularam.

Abimael Oliveira

Hard Times

                      
(fotografia: Hard times de Sean Ruttkay)

Não quero nada além de pedras
Lisas e rugosas. Algumas redondas
Outras pequenas. E argila beje.
Quero fazer túmulos, mausoléus,
lápides elaboradas. Não quero um cemitério.
Iria dar, talvez reservar, túmulos grátis.
Que todos pudessem enterrar seus corações perfeitos.
Há mais flores em túmulos que nas mãos dos amantes.

Abimael Oliveira
P.S. perdão pela repetição da palavra,
que o leitor encare como uma
licensa poética ao solecismo
quase pleonástico e à anáfora.

sábado, 12 de novembro de 2011

     
(imagem: Banksy)


- Sinto o hálito de pensamentos felizes.

(Abimael Oliveira)

sexta-feira, 11 de novembro de 2011

Isso não é um réquiem

Isso não é um réquiem



As aves de meus braços pousam em seus galhos
e lá ficam, porque passarinheiros são teus cachos.


Você era o sol sobre a sombra molhada
chovendo numa grama verde, viva e viçosa.
Eu era o mais louco dos pardais,
que por isso fui tido como pinta-roxo.
E eu cantava feio, um canto azedo,
mas só cantava na sombra,
que é o lugar entre o silêncio
e o sonho.

Abimael Oliveira

sexta-feira, 4 de novembro de 2011

Dedos cruzados, pés unidos e pernas grossas queriam pisar o mundo abaixo da altura do joelho.

A chuva fina de impropriedades enche de vazio novo
o vazio velho das cabeças densas de seu nada,
repetindo as possibilidades de sempre.


Abimael Oliveira

terça-feira, 1 de novembro de 2011

Uma epifania


(obra: Shaka)

Eu tenho seis canetas, que nunca escrevem ao mesmo tempo.
De modo que se uma escreve, crio, ilumino, contraceno e findo universos e nadas;
E nisso mesmo, crio anti-criação com as outras, que é na verdade
o que nunca escrevi e isso ser notado.
E isso é uma certa criação a um ponto de vista.

Abimael Oliveira

Um soneto que não escrevi.


(fotografia: Under the Weather- Thomas Barbey)


Não estejas longe de mim um só dia, porque como,
porque, não sei dizê-lo, é comprido o dia,
e te estarei esperando como nas estações
quando em alguma parte dormitaram os trens.

Não te vás por uma hora porque então
nessa hora se juntam as gotas do desvelo
e talvez toda fumaça que anda buscando casa
venha matar ainda meu coração perdido.

Ai que não se quebrante tua silhueta na areia,
ai que não voem tuas pálpebras na ausência:
não te vás por um minuto,bem-amada,

porque nesse minuto terás ido tão longe
que eu cruzarei toda terra perguntando
se voltarás ou se me deixarás morrendo.

XLV (Do livro Cem Sonetos de amor)
Pablo Neruda

sexta-feira, 28 de outubro de 2011

Sobre um dia de muito calor

Era uma sangria sem fim no horizonte, com carros e gentes e casas sujando a vista. Fumaça de milhares de automóveis subiam aos céus, deixando a luz mais quente e pessoas preocupadas discutindo nas TVs. Casas de prostituição ficam abertas desde a primeira sombra de noite; e bancas de revistas pornográficas fazem entregas a domicílio.
Enquanto subo no ônibus tenho tempo de ver um homem ser agarrado e o inicio de seu linchamento (um tapa na cabeça por trás, de um jovem magro; uma rasteira do homem que o agarrou, tratando-o mais como coisa que criatura) enquanto procuro meu passe-estudantil no bolso entre outros cartões não menos úteis. Alguém devia se importar, se indignar com essa sociedade leprosa. Alguém. Não eu. Eu passo pelo cobrador e vou sentar num assento de janela (o orgasmo de um dia de trabalho), e já não lembro do rosto do homem que apanhava, muito menos dos que batiam.
Estou doente. Do tipo de doença que não se trata com Zoloft e Prozac; eu perdia a fé na humanidade.


Abimael Oliveira

Explicação dos dias

Ainda é tarde quando penso isso, muito tarde
e eu penso em como quase todos os dias de quase
tantas as pessoas são estúpidas.
É tão parecido um domingo com uma quarta-feira
que a missa parece uma verruga na semana.
A sexta-feira, apesar de santa de tempos em tempos,
é quase a mesma coisa de um sábado.

E se são tantos os dias de tantas pessoas- porque
há aqueles que têm dias muito absurdos e pragmáticos,
pois isso é diferente de comum- conclui-se que o tempo,
mas dia menos dia, é quase todo estúpido.

E embora não faça muito sentido, eu perco meu tempo sentado olhando janelas.
Ah, que saudade do tempo que não vou perder,
que tristeza o abismo de te esquecer.
Se houvesse verdade neste epílogo teu rosto
entre sombras, com alegria morreria a cada crepúsculo.


Abimael Oliveira

sexta-feira, 12 de agosto de 2011

Uma página surrealista

Quando o tempo de meus olhos acabar
E o escuro vier como amigo guiar-me
Direi "Adeus" e vou pensar no meu amor
Espero que seja lento esse tempo
Que aí vou ser feliz outra vez
Vontade de remendar meu futuro.


Abimael Oliveira

Poema 4º de amor

Poema 4º de amor

Mulher,alma infértil e coração frio,
Que tristeza sinto agora a contemplar-me.
Último abrigo foi teu corpo, último algoz tua voz.
Ah, mulher, coisa feia é me ver assim nesses dias
Ombro caido, barba mal feita e mãos sujas.
As mãos. Já foram meus olhos no teu paraíso.
Frias e irrespondiveis.
Perdão mulher, por estrebuchar meu amor.


Abimael Oliveira

O poeta Humpty Dumpty apaixonado




O poeta Humpty Dumpty apaixonado

O escuro entre as estrelas é o
único Titã que se opõe a enormidade da luz
Não fosse o escuro, o universo seria um abismo de luz

A tua pele, mulher, é essa mortalha
que encobre meu gênio, matando minha pena
Teu corpo- ora meu, ora nosso- foi um prisma que encolheu toda a luz
Um beijo- Humpty!
Um ato- Dumpty!


Abimael Oliveira

terça-feira, 26 de julho de 2011

Não,mais adeus

Não,mais adeus
(obra:Rob Gonsalves)

Seus pés pisam leve a sala
Tem contornos suaves e fluidos.
Os olhos são criaturas que beberam o brilho de sóis.
São fugitivos do paraíso, seus lábios.

Só há paz em seu seio.
Coisa vazia é viver sem ti;
Todo espaço em que vaza o tempo, angustia-me.
Cada fôlego queima mais rápido e esvai-se.
É por ti, amada, que se amontoam os dias,
Estrelas brigam pra contemplar-te do firmamento.
Tu és a última razão, significância de amor.
As cores só foram criadas para adornar teu corpo.

Guarda lembranças minhas, amada.
De ti, ou para ti, não sei, guardo o mundo.
Fico como regente disso que fiz de mim,
E apenas, taciturno, espero-te.


(Abimael Oliveira)

Do medo de amar.

(obra:Rob Gonsalves)

Te olhei uma vez. Só. Uma vez. Olhar o Sol, só, uma vez pode queimar a retina. Te olhar só, uma vez, queimou minh’alma e meu corpo. Olhava teus olhos. Eram quentes em mim, e frios na planície lisa do mundo. Teus olhos fizeram o mundo cirandar. E cirandando, justiçava a existência , dando de queimar toda vida que te pudesse ver. Titãs e deuses ébrios de medo. Nada ou ninguém tentara possuir-te.
Com efeito, e tempo, apagaram-se as estrelas. Uma pós outra. Crescia a escuridão. Dilatavam-se as pupilas. Ficaremos cegos, mas olharemos a ti.
Certo tempo, estavas a iluminar a existência, toquei teus lábios. Com lábios meus. Piscou duas vezes. Os átomos pararam. Fechou os olhos e correu.  


(Abimael Oliveira)

terça-feira, 5 de julho de 2011

Brilho permanente

(obra: Rob Gonsalves)
Brilho permanente

Eu olho as estrelas, e por estar em irmandade, às vejo com um brilho incomum aos outros dias,
Mas estrelas caem, ora,
E como caem aos montes
Cada estrela um pedido. Cada pedido uma lembrança e consigo a esperança, de ser o que podia ter sido, e não foi
Por poder ser, foi, e só.
E a cada pedido, cada esperança, uma parte do que sou
Se mistura à metáfora (ou ironia)
De iluminar um eu diferente do que sou.
Não abro mão da escuridão que carrego em mim!
Porém, as estrelas, se é que são apenas estrelas, me iluminam
E acabam por me raptar de mim, e torna-me tão facilmente
Fluído e brilhante. Me espalho, me esvaio, me ilumino.
Não quero saber do que é sideral,
Folhas já parecem cometas (cometas em calda!)
Cada coisa parece aquilo que preciso...
Minha dor fez isso comigo!

Made in: Txubiga,Amoni e Abima.

Acho que é quase um poema nonsense,que eu e meus irmãos fizemos.
:D

As trevas- Lord Byron

Tem gente que não gosta de poemas grandes.Acha que poesia tem que representar muito com poucas palavras- alguém já disse que é a maior vantagem da poesia sobre a prosa.Grande erro.Se uma poesia já é uma pequena bomba,que dirá uma poesia enorme.Uma poesia que em cada verso lhe sacode, e que tem uns bons 150 versos só pode ser Shangrilá! 








As trevas

Tive um sonho que em tudo não foi sonho!...

(Édouard Manet- Suicidio)

O sol brilhante se apagava: e os astros,
Do eterno espaço na penumbra escura,
Sem raios, e sem trilhos, vagueavam.
A terra fria balouçava cega
E tétrica no espaço ermo de lua.
A manhã ia, vinha... e regressava...
Mas não trazia o dia! Os homens pasmos
Esqueciam no horror dessas ruínas
Suas paixões: E as almas conglobadas
Gelavam-se num grito de egoísmo
Que demandava "luz". Junto às fogueiras
Abrigavam-se. . . e os tronos e os palácios,
Os palácios dos reis, o albergue e a choça
Ardiam por fanais. Tinham nas chamas
As cidades morrido. Em torno às brasas
Dos seus lares os homens se grupavam,
P'ra à vez extrema se fitarem juntos.
Feliz de quem vivia junto às lavas
Dos vulcões sob a tocha alcantilada!


Hórrida esp'rança acalentava o mundo!
As florestas ardiam! ... de hora em hora
Caindo se apagavam; crepitando,
Lascado o tronco desabava em cinzas.
E tudo... tudo as trevas envolviam.
As frontes ao clarão da luz doente
Tinham do inferno o aspecto... quando às vezes
As faíscas das chamas borrifavam-nas.
Uns, de bruços no chão, tapando os olhos
Choravam. Sobre as mãos cruzadas — outros —
Firmando a barba, desvairados riam.
Outros correndo à toa procuravam
O ardente pasto p'ra funéreas piras.
Inquietos, no esgar do desvario,
Os olhos levantavam p'ra o céu torvo,
Vasto sudário do universo — espectro —,
E após em terra se atirando em raivas,
Rangendo os dentes, blásfemos, uivavam!


Lúgubre grito os pássaros selvagens
Soltavam, revoando espavoridos
Num vôo tonto co'as inúteis asas!
As feras 'stavam mansas e medrosas!
As víboras rojando s'enroscavam
Pelos membros dos homens, sibilantes,
Mas sem veneno... a fome lhes matavam!
E a guerra, que um momento s'extinguira,
De novo se fartava. Só com sangue
Comprava-se o alimento, e após à parte
Cada um se sentava taciturno,
P'ra fartar-se nas trevas infinitas!
Já não havia amor! ... O mundo inteiro
Era um só pensamento, e o pensamento
Era a morte sem glória e sem detença!
O estertor da fome apascentava-se
Nas entranhas ... Ossada ou carne pútrida
Ressupino, insepulto era o cadáver.


Mordiam-se entre si os moribundos
Mesmo os cães se atiravam sobre os donos,
Todos exceto um só... que defendia
O cadáver do seu, contra os ataques
Dos pássaros, das feras e dos homens,
Até que a fome os extinguisse, ou fossem
Os dentes frouxos saciar algures!
Ele mesmo alimento não buscava ...
Mas, gemendo num uivo longo e triste,
Morreu lambendo a mão, que inanimada
Já não podia lhe pagar o afeto.


Faminta a multidão morrera aos poucos.
Escaparam dous homens tão-somente
De uma grande cidade. E se odiavam.
... Foi junto dos tições quase apagados
De um altar, sobre o qual se amontoaram
Sacros objetos p'ra um profano uso,
Que encontraram-se os dous... e, as cinzas mornas
Reunindo nas mãos frias de espectros,
De seus sopros exaustos ao bafejo
Uma chama irrisória produziram! ...
Ao clarão que tremia sobre as cinzas
Olharam-se e morreram dando um grito.
Mesmo da própria hediondez morreram,
Desconhecendo aquele em cuja fronte
Traçara a fome o nome de Duende!


O mundo fez-se um vácuo. A terra esplêndida,
Populosa tornou-se numa massa
Sem estações, sem árvores, sem erva.
Sem verdura, sem homens e sem vida,
Caos de morte, inanimada argila!
Calaram-se o Oceano, o rio, os lagos!
Nada turbava a solidão profunda!
Os navios no mar apodreciam
Sem marujos! os mastros desabando
Dormiam sobre o abismo, sem que ao menos
Uma vaga na queda alevantassem,
Tinham morrido as vagas! e jaziam
As marés no seu túmulo... antes delas
A lua que as guiava era já morta!
No estagnado céu murchara o vento;
Esvaíram-se as nuvens. E nas trevas
Era só trevas o universo inteiro.
(Lord Byron)

Me arrepiei todo!XD

quarta-feira, 8 de junho de 2011

Retórica


(imagem: Jacek Yerka)


O mundo mudou,
Mudaram-se os errados e certos.
Mediram a glória da luz,
Classificaram as roas e os jardins.
Já não há beleza no mundo,
Tudo que há é ordem.

Que acontece a ti, amorzinho?
Teus olhos não brilham, não marejam.
Cadê teu perfume no meu ar?
Tuas pétalas já não valem os espinhos.

Não entendo,
Essa verdade não é justa.

A luz, o mundo e as rosas,
Ainda são como vovó disse.
Ainda fazem brilhar, giram e perfumam.
E já não basta brilhar ou perfumar,
Pra ser real.
Esse sentido irrefutável em seu terreno,
Isso tudo de números, podas e filtros,
É todo adubo que basta à indiferença.

As rosas ainda perfumam,
Mas criaram odores mais fortes.
A luz ainda faz brilhas,
Mas massificaram as sombras.
E essa é uma verdade injusta.

(Abimael Oliveira)

terça-feira, 7 de junho de 2011

Adeus! - Castro Alves


[...]Quis te odiar, não pude. – Quis na terra
Encontrar outro amor. – Foi-me impossível.
Então bendisse a Deus que no meu peito
Pôs o germe cruel de um mal terrível.
(fotografia-August Bradley)


Sinto que vou morrer! Posso, portanto,
A verdade dizer-te santa e nua,
Não quero mais teu amor! Porém minh'alma
Aqui, além, mais longe, é sempre tua.
(Adeus- Castro Alves)

"Tu ainda tem muito o que aprender."(Arlene Oliveira)

quarta-feira, 1 de junho de 2011

Monólogo de Orfeu

 Orfeu da Conceição é uma adaptação em forma de peça musical do mito grego de Orfeu transposto à realidade das favelas cariocas, escrita por Vinicius de Moraes. No carnaval, Orfeu, condutor de bonde (em Portugal, eléctrico) e sambista que mora no morro, apaixona-se por Eurídice, uma jovem do interior que vem para o Rio de Janeiro. Ela está fugindo de um estranho fantasiado de Morte. Como no drama grego, o amor dos dois desperta o ciúme de Mira, ex-noiva de Orfeu. A peça estreou no Teatro Municipal do Rio de Janeiro, em 25 de setembro de 1956.A peça teve cenários de Oscar Niemeyer.


A parte à seguir é O lamento do morro, primeiramente o texto, depois ele é recitado de forma magnífica por Maria Bethânia.


O lamento do morro- Monólogo de Orfeu


Mulher mais adorada!
Agora que não estás, deixa que rompa
O meu peito em soluços! Te enrustiste
Em minha vida; e cada hora que passa
É mais porque te amar, a hora derrama
O seu óleo de amor, em mim, amada...
E sabes de uma coisa? cada vez
Que o sofrimento vem, essa saudade
De estar perto, se longe, ou estar mais perto
Se perto, - que é que eu sei! essa agonia
De viver fraco, o peito extravasado
O mel correndo; essa incapacidade
De me sentir mais eu, Orfeu; tudo isso
Que é bem capaz de confundir o espírito
De um homem - nada disso tem importância
Quando tu chegas com essa charla antiga
Esse contentamento, essa harmonia
Esse corpo! e me dizes essas coisas
Que me dão essa força, essa coragem
Esse orgulho de rei. Ah, minha Eurídice
Meu verso, meu silêncio, minha música!
Nunca fujas de mim! sem ti sou nada
Sou coisa sem razão, jogada, sou
Pedra rolada. Orfeu menos Eurídice...
Coisa incompreensível!




A existência
Sem ti é como olhar para um relógio
Só com o ponteiro dos minutos. Tu
És a hora, és o que dá sentido
E direção ao tempo, minha amiga
Mais querida! Qual mãe, qual pai, qual nada!
A beleza da vida és tu, amada
Milhões amada! Ah! criatura! quem
Poderia pensar que Orfeu: Orfeu
Cujo violão é a vida da cidade
E cuja fala, como o vento à flor
Despetala as mulheres - que ele, Orfeu
Ficasse assim rendido aos teus encantos!
Mulata, pele escura, dente branco
Vai teu caminho que eu vou te seguindo
No pensamento e aqui me deixo rente
Quando voltares, pela lua cheia
Para os braços sem fim do teu amigo!
Vai tua vida, pássaro contente
Vai tua vida que eu estarei contigo!





Tem mais o que pra dizer né?Queria uma dessas pra mim!(a Euridice,não a Bethânia.Ela já está muito velha.)


(fotografia de August Bradley)

terça-feira, 31 de maio de 2011

Derrota

(fotografia de August Bradley)

-Que é que eu digo pro meu eu Romântico quando ele perguntar onde perdi meu amor?
-Diga que o coração com teu amor virou pó (areia) e já se esvaiu numa ampulheta de virtude e espaço.
-Que coisa mais triste cara.
-É nada.É só a vontade que já não temos.

(Abimael Oliveira)
p.s. :tô quase criando uns heteronômios pra facilitar minha cabeça.

Com o corpo dela

Com o corpo dela


Te amar é como ralar sentimentos
Pra polvilhar um bolo de vida.
Pode ficar bonito,é conforme a receita,
Mas não dá pra sentir o gosto de nada
Só o bolo,e o amargo dos sentimentos
Cobrindo o vazio de não sentir.

(Abimael Oliveira)

Com os olhos dela

Com os olhos dela

Vai Dalila,não se detenha,
Não sou teu Sanção.
Sou mais um,de quem rouba a alma.
Segue  teu caminho,olhos abertos,
fechando corações,arrombando sentimentos.
Caminha infeliz,não tropeces.
Os olhos que te guiam,também a mim
conduzem.Mas tu sabes,sabes parar
antes do abismo.

(Abimael Oliveira)

Soneto de amor pobre- O sexo, o amor e o otário

(fotografia de August Bradley)
Soneto de amor pobre- O sexo, o amor e o otário

Românticos, platônicos estudantes
Poetas, seu dom se esvaiu
Musas, cuja beleza caiu
Tempos nunca vistos antes

Uni-vos!
O mundo nos rejeitou!
Bando de leprosos, ”Animais não amam”.
“Já alimentou seu cachorro hoje?”
Nós sugamos o tutano das palavras!
Remoemos a carcaça das relações.

Nós amamos infinitamente mais que vocês
Vazios colecionadores de corpos
Suas vidas me enojam
Não sinto pena, sinto ira
A ira que me é justo possuir

Um desse tipote, que ousadia, sujou teu leito!
Acha que sou tolo esse maldito!
-Hoje arranco tua cabeça Cappuleto!

Seus “Eu te amo” são como frutos de casca lisa e sumo podre
Seus olhos mentem antes de suas bocas

E é esse o herói dos Grimm e de minha tola

(Abimael Oliveira)

terça-feira, 24 de maio de 2011

Pecado com amor se paga

(imagem: Rob Gonsalves)
Pecado com amor se paga

Queria logo é perder a palavra,
Dom cruel este do poeta.
Se não o tivesse,
Reteria em mim todos os sentimentos,
As tristezas e euforias de anos gulosos,
Os sorrisos e apertos dum exército todo,
O salgado e o insosso de todas as águas,
Todo o fôlego do grito ou cochicho.
Ah, se eu pudesse jogar fora a palavra,
Toda a palavra e seu Dom
E ir juntando isso tudo,
Ou pegando onde quer que avistasse.
Todas as liras de estrelas e rosas.
Tudo de amadas e desencantos.
(porque há desencantos)
Todos os abraços que já apertei (alguns do tamanho da mão).
Enfim, as almas todas que tenho.
Botava tudo num balão bem vermelho
(vermelho bem vermelho mesmo)
Soprava com bastante força até pocar.
Aí ia chover cinqüenta dias sem parar
Gotas bem grandes do veneno de Cúpido.
E todo dia de tarde eu tomava banho de chuva

(Abimael Oliveira)

segunda-feira, 23 de maio de 2011

O amigo de teus dias

(imagem: Rob Gonsalves)
O amigo de teus dias

Não me tome por um amigo de primaveras.
Sou um amigo de seus anos.
Quando o inverno
de seus dias chegar- silêncio, dor, cansaço e desesperança-
Eu vou estar lá pra te abraçar- calor-
E nada vai mudar. O frio nem vai passar
A noite ainda vai arrastar e o vidro trincar.
Mas eu vou comer teu frio com meu corpo,
E vai ser quente por dentro

(Abimael Oliveira)

sexta-feira, 20 de maio de 2011

Referente à sexta-feira

(imagem: Rob Gonsalves)


Referente à sexta-feira

Hoje, só hoje, estou triste
Não é errado, nem pecado estar triste
Foi que eu percebi que não te vejo.
Faz tempo que não te vejo.
Leio tuas palavras, mas não ouço tua voz.
Vejo teu corpo, mas não sinto teu calor.
E isso vai juntando um amarguinho na boca,
Dá vontade de dormir, ou de chorar.

Depois, amanhã mesmo, ou hoje noitinha
Eu vou sorrir, mas agora
Nesse momento, com música ruim, chuva fina
Cama fria,
Estou triste, e nas palavras que tardar me arrependo
Teu sorriso não basta.

(Abimael Oliveira)

quinta-feira, 19 de maio de 2011

Carta de amor de grande homem...

Eu,quando penso,penso em você.E o mundo fica tão mais bonito só por isso,que tenho que repetir que te amo.
Amo sua boca macia,seu jeito politicamente correto,amo seus olhos grandes e orelhas pequenas...gosto de você.
(Abimael Oliveira)

quarta-feira, 18 de maio de 2011

Metade de lá

(imagem: Rob Gonsalves)
Você está quase lá,
É o que admiro em você.
Está sempre quase,
Como que arrodeando a perfeição
ou sitiando o paraíso.

(Abimael Oliveira)

Breve tratado sobre as musas I

É por isso que não vou, não poderia
Deixar de te amar
Amo teu espírito, infinito e lindo
Não desprezo teu corpo, ele é o relicário,
Mas busco o sacro-sumo.
Meu drama é que relicários são invioláveis.

Mas apenas orar não me basta,
Quero profanar teu coração.
Perverter teu corpo,violar
O teu amor com versos indecentes.
Ai querida,já tá cansada de saber,
No nosso caso é só o amor que é santo,
O resto somos nós.

(Abimael Oliveira)

Com suas mãos

(imagem: Rob Gonsalves)

Com suas mãos

Benzinho,sinto muito te dizer,
Mas acaba hoje meu lamento.
Sem mais demora,é meu momento.
É,a culpa foi toda sua
Me teve completo;de alma nua,
Não disse nada ao meu lado
Quieta como gelo,fria como um dado,
À espera da sorte de um carinho
Pra quem mereça.Vou só no caminho.

Não,não é o fim do nosso caso,
Continuamos,só não quero ao acaso,
Com desleixo,tudo que fiz de nós.
Destruo agora o que fomos.
Seguiremos até cansarmos,mãos dadas.
Mas não espere meus abraços,
Nem palavras,nem carinhos,
Seremos apenas sós,juntos.

(Abimael Oliveira)

Só eu

(imagem: Rob Gonsalves)

Vai ter momentos no escuro
Sem saber qual o chão dos teus pés.
Chorar por não poder sorrir.
A Luz não vai vir do céu,
Ninguém quer lhe salvar.
Sem mesmo saber se é bom ou ruim
Apenas andar, cansar, arrastar

E se vaga-lumes brilham,
É menos que qualquer estrela
O caminho mais exato.
Vai haver uma voz
Com hálito de rosa
E vamos amar
E sorrir, e vai ser bom

É esse o segredo dos vaga-lumes,
Eles não vêem a própria luz

(Abimael Oliveira)

terça-feira, 17 de maio de 2011

MSN

Você cria suas diretrizes,metodologia pra lidar com todo sentimento que venha de alguém.Aí aparece eu e não ligo pra suas regras,sinto todos os sentimentos q você só tem planejado.E ainda tenho a cara de pau de dizer que te amo sem saber nem quem você é.
Você fica perdida.


(Abimael Oliveira)

quarta-feira, 11 de maio de 2011

Reticências

Acho que algumas partes não são muito entendiveis,mas vou digitar outra hora.
E o desenho ficou tão legal também.

terça-feira, 10 de maio de 2011

Poesia para amiga

Poesia para amiga

AH amiga,tu não sabes meu penar.
Te desejo,te amo e nem me deixas te tocar
Sofre meu corpo, rijo como pedra
Que tu desfazes, transforma em pó
Minha cabeça, meu peito dão um nó!

Quero ter alguém pra amar,
Alguém que na surdina não vai me abandonar.
Preciso que diga que me ama
Na rua, na praça e não só na cama!

Tanta dor num só peito não pode ser contida
Empresta os teus, querida, que rompida
Tua blusa, mostra onde caber meus sentimentos.
Na extensão de meu corpo eu quero o teu
Vibrando, dizendo baixinho que tudo que toco é meu.
Quero prender teus lábios em meus dentes,
Te beijar quando teu corpo e alma estiverem contentes.
Agarrar você no começo do sorriso e contemplar
O sorriso do teu riso, sem graça ao ver o meu olhar.

Oh amiga, quero tudo isso e muito mais,
Coisas que fazem o corpo tremer,me tira a paz.
E já não vivo sem teu corpo e teu amor, mas pra você tanto faz.

(Abimael Oliveira- eu)

Sobe-desce

(pintura de Tetsuya Ishida)
Sobe-desce

A Débora sobe,a Tamires desce.
Minha vida é como um cão roendo o osso
Pobre,desgarrada,infeliz e quase indecente
Vida louca,absurda mas viva.
É uma desgraça isso tudo,
Tantos sonhos e planos que já tive
Hoje nada fiz,ontem morri,amanhã?
-Ah,amanhã ninguém lembra mais.

O Romário desce,o Ronaldo sobe.
Minha vida é um abutre sobre a carniça
Limpa,abundante,desconexa e quase hibrida
Vida fétida,fedida fodida mas vida
É uma merda isso tudo,
Tanto dinheiro e mulher que já tive
Hoje o mundo,ontem a glória,amanhã?
-Ah,amanhã tem sangue no jornal.

O Humor sobe,a Honra desce.
Minha vida é um palhaço no picadeiro
Louca,extraordinária,hilária e quase irreal
Vida boa,boa mas vida.
É um riso isso tudo,
Tanta cor e palhaçamento que já vi
Hoje o palco,ontem o riso,amanhã?
-Ah,amanhã todo mundo chora qualquer coisa.

(Abimael Oliveira- eu)

segunda-feira, 9 de maio de 2011

Soneto de amor noturno

Acho que ainda não falei que estudo na UEFS(Universidade Estadual de Feira de Santana),pois isso é uma das coisas mais produtivas que se pode fazer quando tem um professor fazendo sua cota de horas semanais.Aulas vazias,cabeças nem tanto.
(imagem de Jacek Yerka)


Soneto de amor noturno

Ah,se o mundo dos sonhos em mim coubesse.
Toda noite te amaria, toda noite sem fim
Findaria o Sol, num horizonte carmesim
Se só hoje a lua do céu não descesse

Seria o maior amor dos mundos
Como um poço no fundo dos fundos
Cheio do puro prateado orvalho
À sombra amarela de um carvalho

Ecoaria Pokela,o teu nome
Como canto pelos montes e vales
Espantando a alvorada e seus males

Ah,toda noite haveria neve e chuva
Com beijos de chocolate,morango ou uva,
Mas como lua no dia,meu amor some

(Abimael Oliveira- eu)