terça-feira, 24 de maio de 2011

Pecado com amor se paga

(imagem: Rob Gonsalves)
Pecado com amor se paga

Queria logo é perder a palavra,
Dom cruel este do poeta.
Se não o tivesse,
Reteria em mim todos os sentimentos,
As tristezas e euforias de anos gulosos,
Os sorrisos e apertos dum exército todo,
O salgado e o insosso de todas as águas,
Todo o fôlego do grito ou cochicho.
Ah, se eu pudesse jogar fora a palavra,
Toda a palavra e seu Dom
E ir juntando isso tudo,
Ou pegando onde quer que avistasse.
Todas as liras de estrelas e rosas.
Tudo de amadas e desencantos.
(porque há desencantos)
Todos os abraços que já apertei (alguns do tamanho da mão).
Enfim, as almas todas que tenho.
Botava tudo num balão bem vermelho
(vermelho bem vermelho mesmo)
Soprava com bastante força até pocar.
Aí ia chover cinqüenta dias sem parar
Gotas bem grandes do veneno de Cúpido.
E todo dia de tarde eu tomava banho de chuva

(Abimael Oliveira)

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