Era uma sangria sem fim no horizonte, com carros e gentes e casas sujando a vista. Fumaça de milhares de automóveis subiam aos céus, deixando a luz mais quente e pessoas preocupadas discutindo nas TVs. Casas de prostituição ficam abertas desde a primeira sombra de noite; e bancas de revistas pornográficas fazem entregas a domicílio.
Enquanto subo no ônibus tenho tempo de ver um homem ser agarrado e o inicio de seu linchamento (um tapa na cabeça por trás, de um jovem magro; uma rasteira do homem que o agarrou, tratando-o mais como coisa que criatura) enquanto procuro meu passe-estudantil no bolso entre outros cartões não menos úteis. Alguém devia se importar, se indignar com essa sociedade leprosa. Alguém. Não eu. Eu passo pelo cobrador e vou sentar num assento de janela (o orgasmo de um dia de trabalho), e já não lembro do rosto do homem que apanhava, muito menos dos que batiam.
Estou doente. Do tipo de doença que não se trata com Zoloft e Prozac; eu perdia a fé na humanidade.
Abimael Oliveira
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