quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

O suspiro de um sonho

(fotografia: Piotr Kowalik)

Beijava todo o meu corpo, exceto a boca. Minha boca era algo como que sagrado, era imaculada. Seus beijos eram bem tratados, como um florista cuida de flores.
Foi embora. Foi assim, como quem diz até amanhã, ou até a próxima, na esperança de nunca se cruzar na rua. Eu fiquei. Não sei como, porque fiquei. Que eu sei?


Até minha saudade é diferente todo dia
Cada sol que bebo anoitece meus olhos
Meu semblante é penumbra sobre fuligem.
Peço que cante baixo a natureza, favor.
Os sonhos, que já não sonho, comprimem minha cabeça.
Eles berram de fora de mim: deixe-nos existir.


Ah, Deus, existir. Existir é só o que pedem.
Nem felicidade no fulgor da noite, nada.
Há de valer um sonho que nada quer?




Abimael Oliveira

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