quinta-feira, 18 de setembro de 2014

Do que me traz à saudade

Tua mentira sussurrada
diz saber da verdade das andorinhas.
Escorre entre meus olhos a silhueta
de cada instante do por vir.
Beijo teus caules, abraço tua velhice de folha primaveril
Desfolho teus cabelos em cor,
empoleiro tuas mãos nas minhas
Estou à distância de teus voos fingidos.
Floresçamos, é nosso dever com a direção dos sonhos.

Escorre debaixo da porta o sangue de lembranças,
a saudade é um ponto de fuga,
o futuro de borrão na vegetação rasteira da praça de fretes...
E eu voltei.


Abimael Oliveira
30/07/-16/09/2014

sábado, 2 de agosto de 2014

Sobre como ser boêmio

Fotografia: National Geographic

Meu amor sempre andou só. Calado na dele. Sempre que se batia com alguém, pedia desculpas, abaixava a cabeça e atravessava a rua.
Na multidão de pernas meu amor passa ligeiro.
É breve e sublime, a nublagem duma só nuvem.
Anda apressado, aperta o tempo e folga o passo.
Chega onde parte.

O meu amor tem sofrido muito por não saber onde ir.
Taciturno na noite apalpa os egos
comunga as flores das manhãs tardias.
Meu amor, como uma crônica, passa e morre.
Fico a pensar pronde vão as personagens.

Se durasse mais cinco linhas, que fim teriam?




Abimael Oliveira

segunda-feira, 23 de junho de 2014

Manhã cheia

Pensei ouvir tua voz, sonhei sentir teu cheiro.
Eram brumas, desfaziam quando eu tocava
Deixei onde estavam, à distância,
brancas, leves, ondulando
ao sabor de vento e maré dos meus desassossegos.
Não sei como,
você voltou aos meus pensamentos.
Eu tenho sofrido muito por desconhecer
meus passos.
São pés rotos que fazem meu caminho,
pegadas quentes,  que estou sempre reacendendo.
Colho dos sentidos uma melancolia arrastada,
que se vai impregnando cada roupa que visto,
cada lugar onde sento,
e então tudo me cansa e deprime.

Saber da vida é cansar-se e deprimir-se.


Abimael Oliveira

sábado, 10 de maio de 2014

Ensaio em aquarela

Aquarela: Bárbara Barros Lemos
A primavera bagunçava seus cabelos,
o verão ondulava sua saia.
Era outono em seus seios
e chovia o inverno em seus olhos.
Ela trazia o tempo apertado contra o corpo,
carregava consigo o por vir de vidas inteiras.
Meu pensamento amanheceu em seu sorriso,
entardeceu no limite da realidade e tua pele
fluía com o peso do coração vibrante
de um mundo jovem, com mil amores a criar.



Autor: Abimael Oliveira.

terça-feira, 11 de março de 2014

20:45

Houve um grito, um espasmo no horizonte,
e a quimera daquele dia deu seu suspiro.
Era um sonho natimorto, mas em tudo,
cada tonalidade, parecia vivo, a ponto
de rebentar meus olhos e juntar seu grito
ao grito dentro de mim.
Eu vi quando seus dentes rangeram,
chorei quando o gozo murchou.
Assisti a tempestade deitar-se
no semblante das memórias.

Permaneço. É da minha natureza,
e isso a quimera tem de mim.
Minha permanência de platéia sem aplauso.



Abimael Oliveira

domingo, 23 de fevereiro de 2014

00:50

Acabou nosso casinho.
(Aquarela de Helena Abreu)


Como um salto que de tão alto,
tão rápido cai.
Nem versos, noites ou beijos.
O amor afogou-se em flertes,
comigo atônito por seus atos gentis.
Como uma dama se merece o adjetivo,
como se num aceno à distância,
que ela me "pede em amizade".
Pede com carinho.
Penso nas aquarelas.
Barganho uma coisa que sorria.
A noite segue,
e nós lhe seguimos à sua alcova



Abimael Oliveira

terça-feira, 4 de fevereiro de 2014

Sobre o fim do mundo [MEU]

Se me encontrar um dia adiado, dê-me ao menos a saudade
a que me empertigar no verão e não reclamarei no inverno.
O inverno de meu tempo, eu já vejo antes de despontar
com a tristeza de quem nunca soube se valia na verdade.
Não vale, seja qual for o sacrifício desse monstro gentil.
Aqui os fogos se apagam e em todas as direções há mar.


Abimael Oliveira

segunda-feira, 3 de fevereiro de 2014

Pedaço II

O tempo de hoje me deixa melancólico. Sua passagem se me cansa os olhos e fatiga o corpo. Sinto noites mais longas chegarem e com elas o negro do firmamento que me lembra o negro de teus olhos. Não, a causa de minha insonia não é só uma mulher. Há muito de cansaço pra ser só saudade, e muito de sensatez que seja só desejo. Meu tempo, esse tempo, se me dó n'alma por ser impossivelmente meu. E sabê-lo estar assim, inacabado, é como ter um enorme fardo de ser responsável por uma felicidade que não escolhi. Essa ditadura de sorrir mesmo no luto dos dias. A alegria tem em si um vazio de sentido que é estar ou ter ou fazer o que se deseja e já não haver desejo. E a tristeza de amores, fracassos e tudo que não passa de bruma, tudo isso tem o infinito de querer. O desejo de ser feliz que por não se realizar, não acaba.


Abimael Oliveira

Pedaço I

Ela voltou e eu aceitei. Abri os braços quase sem perceber. Fácil demais. Agora parece que tudo que ela disse quando fugiu foram desculpas vazias. E eu me pergunto porque ela precisou de desculpas. Será que ama o jeito carinhoso e a atenção sem medidas? Não sei se ela me ama ou só está confusa a meu favor. Vou pagar pra ver. Dessa vez e só dessa vez.
Estive embriagado porque a consciência mentia para mim. Dizia que estava tudo bem quando eu sei que está desmoronando. O amor me tratou como ninguém, como sem importância pra se adaptar a indiferença a meu respeito. E eu minto pra mim, finjo que ela só não sabia que me amava. E eu finjo que acredito no que finjo que acredito.
Imagem: filme Network

Os acenos são mudos. Seu beijo não tem sabor. Foi plástico, teve a forma de algo intenso e sensual sem o ser todavia. Nossas línguas juntas e corações separados? Não quero isso; não sei amar pela metade, nem pegar leve. Acho que nunca soube; sempre mais impulsivo do que quis. Se ficar comigo é de alma, quase um pacto pelo teu apego e teu amor nu. Estamos nos despedindo esse tempo todo. Sob abraços, mãos dadas e fotos sorridentes estamos dizendo adeus. Um mais definitivo, aquele que não tivemos coragem de dizer na primeira vez.


Abimael Oliveira

sábado, 11 de janeiro de 2014

18:41

O problema com a verdade é que ela é incompatível com os sonhos. Diga a verdade ao menos uma vez e veja quantos ficam de pé. Sonhos foram feitos para apostar com fé cega. Sem garantias, sem promessas. Por isso não me venha dizer pra lutar pelos meus sonhos. Eles já estão mortos quando eu acordo. Só deixam uma sombra do que foram, algo realizável. E fico feliz porque esse pedaço é o mais perto que vou chegar do ideal. A chance de um condenado vislumbrar o paraíso.

Abimael Oliveira

18:33

Meus olhos estão a ponto de rebentar, o coração é uma colcha de retalhos. Amei tanto, fiz tudo que achava que devia fazer, neguei tão pouco - devia ter voltado a sua casa com rosa na mão e dizer o que ainda não vomitei. E ainda assim acabou. Homens no caminho da forca devem se sentir assim. Eles veem o abismo antes de cair; tem tempo o bastante para admirar o infinito negro onde toda luz apodrece com a esperança e a vida dos que já seguiram o mesmo caminho. Meu abismo são os olhos de uma mulher. E a decomposição não pode - Deus, eu rezo pra que não possa - contaminar seu sorriso nem a esperança de tê-la de novo.


Abimael Oliveira

segunda-feira, 6 de janeiro de 2014

04/01/13

É algo que preciso te dizer. Eu te amo. Você se esqueceu disso. Não lembra mais que te amo, nem o que isso significa. Te amar quer dizer porrada! usar exclamação é como rir da própria piada Brigar com os dias de TPM, aguentar a pancada quando você jogar nossa história pro alto e bater forte quando a saudade mostrar as caras. Eu não disfarço. Até tentei, mas desisti no começo e agora demonstro, falo logo e rápido: te amo pra caralho. E pra caralho quer dizer brigar com mais raça, bater mais forte e aguentar mais que uma paixão mediana.


Eu te amei tanto e tão intensamente, que agora no vazio que ficou quando você se foi cabe o mundo inteiro.
Eu não posso andar sob o Sol, porque me lembro que você detestava caminhar. Não posso correr, porque me lembro como ficaram seus pés na única vez em que tentou me acompanhar. Não posso chorar, porque me lembro de seu rosto molhado e que nunca mais vou poder secar. Não posso sorrir, porque a felicidade me lembra o sorriso que você faz brotar dos lábios inesperadamente. Se escrevo, todas as frases e palavras me lembram que te amo e sabem que me inspira. Não consigo usar aquela caneta dourada que você me deu de aniversário porque eu ia fazer medicina; ela me lembra as cartas que te escrevi e todos os envelopes que comprei e estão guardados sem usar. Não sei o que fazer com seu coração de papel e seus desenhos de nós dois, porque naquelas formas a gente se beija e sorri. Nem orar eu posso, porque antes orava pra que Deus me desse alguém pra amar e agora esse é o mesmo Deus que você me disse pra andar junto quando foi embora e ele não me ajudou. Até o blues não é mais doce, porque foram muitos os trechos que te dediquei no meu inglês ruim. Você diz que quer ser cantora e agora todo bem-te-vi quer rachar meu coração.
Eu estava inteiro quando te conheci. Abaixei a guarda pra te abraçar e agora não sei mais o que fazer com meus braços. Eu a amo tanto que abri mão das palavras complicadas que só eram bonitas, mas confusas. Tanto que Jorge e Matheus finalmente fazem sentido mesmo com melodia. Te amo tanto que agora você já é todo meu coração, e nem bater eu posso mais.


Abimael Oliveira

04/01/13

Falo demais. Dessa vez acho que estraguei tudo. Ela fugiu e não deve voltar.
Não sei onde errei e isso pesa demais.Antes errei sendo infantil, covarde ou descuidado, mas agora não sei onde fiz besteira. Baixei a guarda e amei com tudo que eu tinha pra amar.
Ela é minha Helena, com muralhas imensas e invencíveis. A menos que abra seus portões eu não tenho chances


Abimael Oliveira

P.S.: perdi.