Oito noites seguidas de chuva fina
Meu semblante teve seu dilúvio.
E tudo que vivia em mim, florestas,
pastos, restingas e tudo que já
de morrer se ficar muitos dias na água
sem comer, morreu. Um naufrágio que sepultou minha criação.
Ficou estéreo a superfície de mim.
Mas depois de muito pescar e estar há
enojado de frutos de mar, lancei âncora.
Soltei quatro passarinhos: joão-de-barro,
coleiro, pardal e anum.
João-de-barro porque tinha pena de bicho tão bonito morrer na gaiola.
Coleiro eu soltei pra ele fazer o mundo ter um barulho mais bonito,
pra os astros terem vontade de amanhecer-anoitecer
e pra a terra ter vontade de fazer fio-de-lama.
Pardal é mais uma coisa,
uma criatura que fica no lugar do que já morreu.
- Abimael Oliveira
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