Não me lembro nunca do que é importante.
Estão a debater-se em minha cabeça assuntos de tal futilidade que assustaria alguns tolos.
E apesar de reconhecer a futilidade nesses pensamentos, não os consigo evitar.
E os deixo tornar a debater-se e argumentarem entre si, após minha inútil intervenção
- Abimael Oliveira
quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012
segunda-feira, 20 de fevereiro de 2012
17:30
(fotografia: Piotr Kowalik)
Chegou meu fim, vejam como é.
Veio algo que não sei o que é, ou o que quer,
me mostrou bonito em todas as línguas,
até as que não se usa, por falta de deferência;
flor de meu ventre, disseste onde pôr a luz
e tu mesma era a luz.
Oh! amiga, amante, volátil e morno é teu sangue,
quando à brisa se espalha sobre um labirinto branco.
Mãe de Eurípedes! Cede um buquê de palavra
por uma margarida de loucura.
Ai, minha insanidade não te basta?
Permite que minha coerência acaricie esta coisa,
só para que depois meu esquecimento me digira.
Minhas mãos tremem e a caneta fez borrões,
ofendeu a realeza da língua portuguesa.
Peço que não pesem esse desassossego de letrinhas
tão boazinhas, por que pra mim também foi um susto:
Eu mesmo era a palavra que escrevi
Abimael Oliveira
terça-feira, 14 de fevereiro de 2012
00:16h
O sol ia arranhar a penumbra, mas não ia ousar te acordar se você dormisse sorrindo.
- Abimael Oliveira
P.S.: E quer saber? O que fode com tudo é que o dia virá e não vai acabar com a noite, ainda vai haver o fim de tudo em cada sombra; o amor que te convence da natureza divina de alguém é tão inocente quando um Deus jogando dados.
sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012
Oito vezes te amei
Oito noites seguidas de chuva fina
Meu semblante teve seu dilúvio.
E tudo que vivia em mim, florestas,
pastos, restingas e tudo que já
de morrer se ficar muitos dias na água
sem comer, morreu. Um naufrágio que sepultou minha criação.
Ficou estéreo a superfície de mim.
Mas depois de muito pescar e estar há
enojado de frutos de mar, lancei âncora.
Soltei quatro passarinhos: joão-de-barro,
coleiro, pardal e anum.
João-de-barro porque tinha pena de bicho tão bonito morrer na gaiola.
Coleiro eu soltei pra ele fazer o mundo ter um barulho mais bonito,
pra os astros terem vontade de amanhecer-anoitecer
e pra a terra ter vontade de fazer fio-de-lama.
Pardal é mais uma coisa,
uma criatura que fica no lugar do que já morreu.
- Abimael Oliveira
sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012
Jardim em chamas
fotografia: João Marcos Rosa
Caminhava no jardim, procurando Artemis
subia degraus coloridos, feitos de caules inda vivos,
ouvia a respiração das flores esbaforidas.
Atravessei rápido, a trilha de seu caminho de perdia
entre gira-sóis escandalosos.
De súbito a luz. Depois o calor. Havia fogo ali.
O fogo cobria de injúrias as pobres flores,
escorregando entre pedras, rude e confuso.
E tu estavas lá, brincando com a chama de uma tocha.
- Abimael Oliveira
quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012
Eu sou o mar
Um dia perguntei pra minha mãe porque a gente chora. Ela disse:
- Cada pessoa tem um mar por dentro, que vaza com as marés da vida.
Não pude deixar de rir, apesar do respeito à mãe:
- E como o mar cabe na gente? E quem não chora, é seco?
- Não sei como, mas é bem verdade, há gente árida como desertos por dentro.
Hoje eu aprendi, haja mar pra tanto deserto.
Há quem diga que chorar não é coisa de homem, mas eu não sou homem. Eu sou o mar.
- Abimael Oliveira
- Cada pessoa tem um mar por dentro, que vaza com as marés da vida.
Não pude deixar de rir, apesar do respeito à mãe:
- E como o mar cabe na gente? E quem não chora, é seco?
- Não sei como, mas é bem verdade, há gente árida como desertos por dentro.
Hoje eu aprendi, haja mar pra tanto deserto.
Há quem diga que chorar não é coisa de homem, mas eu não sou homem. Eu sou o mar.
- Abimael Oliveira
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