domingo, 27 de novembro de 2011

Com a distância dela

Morro em delírios, mil por mil
Idéias morrem e nascem em mim.
Me dei todo, de uma vez
Talvez pouco eu seja, talvez
Não seja claro o infinito que te quero,
Caso por caso.


Abimael Oliveira    

quinta-feira, 17 de novembro de 2011

Dizem que as lágrimas são o sangue do coração,
eis que meus olhos coagularam.

Abimael Oliveira

Hard Times

                      
(fotografia: Hard times de Sean Ruttkay)

Não quero nada além de pedras
Lisas e rugosas. Algumas redondas
Outras pequenas. E argila beje.
Quero fazer túmulos, mausoléus,
lápides elaboradas. Não quero um cemitério.
Iria dar, talvez reservar, túmulos grátis.
Que todos pudessem enterrar seus corações perfeitos.
Há mais flores em túmulos que nas mãos dos amantes.

Abimael Oliveira
P.S. perdão pela repetição da palavra,
que o leitor encare como uma
licensa poética ao solecismo
quase pleonástico e à anáfora.

sábado, 12 de novembro de 2011

     
(imagem: Banksy)


- Sinto o hálito de pensamentos felizes.

(Abimael Oliveira)

sexta-feira, 11 de novembro de 2011

Isso não é um réquiem

Isso não é um réquiem



As aves de meus braços pousam em seus galhos
e lá ficam, porque passarinheiros são teus cachos.


Você era o sol sobre a sombra molhada
chovendo numa grama verde, viva e viçosa.
Eu era o mais louco dos pardais,
que por isso fui tido como pinta-roxo.
E eu cantava feio, um canto azedo,
mas só cantava na sombra,
que é o lugar entre o silêncio
e o sonho.

Abimael Oliveira

sexta-feira, 4 de novembro de 2011

Dedos cruzados, pés unidos e pernas grossas queriam pisar o mundo abaixo da altura do joelho.

A chuva fina de impropriedades enche de vazio novo
o vazio velho das cabeças densas de seu nada,
repetindo as possibilidades de sempre.


Abimael Oliveira

terça-feira, 1 de novembro de 2011

Uma epifania


(obra: Shaka)

Eu tenho seis canetas, que nunca escrevem ao mesmo tempo.
De modo que se uma escreve, crio, ilumino, contraceno e findo universos e nadas;
E nisso mesmo, crio anti-criação com as outras, que é na verdade
o que nunca escrevi e isso ser notado.
E isso é uma certa criação a um ponto de vista.

Abimael Oliveira

Um soneto que não escrevi.


(fotografia: Under the Weather- Thomas Barbey)


Não estejas longe de mim um só dia, porque como,
porque, não sei dizê-lo, é comprido o dia,
e te estarei esperando como nas estações
quando em alguma parte dormitaram os trens.

Não te vás por uma hora porque então
nessa hora se juntam as gotas do desvelo
e talvez toda fumaça que anda buscando casa
venha matar ainda meu coração perdido.

Ai que não se quebrante tua silhueta na areia,
ai que não voem tuas pálpebras na ausência:
não te vás por um minuto,bem-amada,

porque nesse minuto terás ido tão longe
que eu cruzarei toda terra perguntando
se voltarás ou se me deixarás morrendo.

XLV (Do livro Cem Sonetos de amor)
Pablo Neruda