terça-feira, 26 de julho de 2011

Não,mais adeus

Não,mais adeus
(obra:Rob Gonsalves)

Seus pés pisam leve a sala
Tem contornos suaves e fluidos.
Os olhos são criaturas que beberam o brilho de sóis.
São fugitivos do paraíso, seus lábios.

Só há paz em seu seio.
Coisa vazia é viver sem ti;
Todo espaço em que vaza o tempo, angustia-me.
Cada fôlego queima mais rápido e esvai-se.
É por ti, amada, que se amontoam os dias,
Estrelas brigam pra contemplar-te do firmamento.
Tu és a última razão, significância de amor.
As cores só foram criadas para adornar teu corpo.

Guarda lembranças minhas, amada.
De ti, ou para ti, não sei, guardo o mundo.
Fico como regente disso que fiz de mim,
E apenas, taciturno, espero-te.


(Abimael Oliveira)

Do medo de amar.

(obra:Rob Gonsalves)

Te olhei uma vez. Só. Uma vez. Olhar o Sol, só, uma vez pode queimar a retina. Te olhar só, uma vez, queimou minh’alma e meu corpo. Olhava teus olhos. Eram quentes em mim, e frios na planície lisa do mundo. Teus olhos fizeram o mundo cirandar. E cirandando, justiçava a existência , dando de queimar toda vida que te pudesse ver. Titãs e deuses ébrios de medo. Nada ou ninguém tentara possuir-te.
Com efeito, e tempo, apagaram-se as estrelas. Uma pós outra. Crescia a escuridão. Dilatavam-se as pupilas. Ficaremos cegos, mas olharemos a ti.
Certo tempo, estavas a iluminar a existência, toquei teus lábios. Com lábios meus. Piscou duas vezes. Os átomos pararam. Fechou os olhos e correu.  


(Abimael Oliveira)

terça-feira, 5 de julho de 2011

Brilho permanente

(obra: Rob Gonsalves)
Brilho permanente

Eu olho as estrelas, e por estar em irmandade, às vejo com um brilho incomum aos outros dias,
Mas estrelas caem, ora,
E como caem aos montes
Cada estrela um pedido. Cada pedido uma lembrança e consigo a esperança, de ser o que podia ter sido, e não foi
Por poder ser, foi, e só.
E a cada pedido, cada esperança, uma parte do que sou
Se mistura à metáfora (ou ironia)
De iluminar um eu diferente do que sou.
Não abro mão da escuridão que carrego em mim!
Porém, as estrelas, se é que são apenas estrelas, me iluminam
E acabam por me raptar de mim, e torna-me tão facilmente
Fluído e brilhante. Me espalho, me esvaio, me ilumino.
Não quero saber do que é sideral,
Folhas já parecem cometas (cometas em calda!)
Cada coisa parece aquilo que preciso...
Minha dor fez isso comigo!

Made in: Txubiga,Amoni e Abima.

Acho que é quase um poema nonsense,que eu e meus irmãos fizemos.
:D

As trevas- Lord Byron

Tem gente que não gosta de poemas grandes.Acha que poesia tem que representar muito com poucas palavras- alguém já disse que é a maior vantagem da poesia sobre a prosa.Grande erro.Se uma poesia já é uma pequena bomba,que dirá uma poesia enorme.Uma poesia que em cada verso lhe sacode, e que tem uns bons 150 versos só pode ser Shangrilá! 








As trevas

Tive um sonho que em tudo não foi sonho!...

(Édouard Manet- Suicidio)

O sol brilhante se apagava: e os astros,
Do eterno espaço na penumbra escura,
Sem raios, e sem trilhos, vagueavam.
A terra fria balouçava cega
E tétrica no espaço ermo de lua.
A manhã ia, vinha... e regressava...
Mas não trazia o dia! Os homens pasmos
Esqueciam no horror dessas ruínas
Suas paixões: E as almas conglobadas
Gelavam-se num grito de egoísmo
Que demandava "luz". Junto às fogueiras
Abrigavam-se. . . e os tronos e os palácios,
Os palácios dos reis, o albergue e a choça
Ardiam por fanais. Tinham nas chamas
As cidades morrido. Em torno às brasas
Dos seus lares os homens se grupavam,
P'ra à vez extrema se fitarem juntos.
Feliz de quem vivia junto às lavas
Dos vulcões sob a tocha alcantilada!


Hórrida esp'rança acalentava o mundo!
As florestas ardiam! ... de hora em hora
Caindo se apagavam; crepitando,
Lascado o tronco desabava em cinzas.
E tudo... tudo as trevas envolviam.
As frontes ao clarão da luz doente
Tinham do inferno o aspecto... quando às vezes
As faíscas das chamas borrifavam-nas.
Uns, de bruços no chão, tapando os olhos
Choravam. Sobre as mãos cruzadas — outros —
Firmando a barba, desvairados riam.
Outros correndo à toa procuravam
O ardente pasto p'ra funéreas piras.
Inquietos, no esgar do desvario,
Os olhos levantavam p'ra o céu torvo,
Vasto sudário do universo — espectro —,
E após em terra se atirando em raivas,
Rangendo os dentes, blásfemos, uivavam!


Lúgubre grito os pássaros selvagens
Soltavam, revoando espavoridos
Num vôo tonto co'as inúteis asas!
As feras 'stavam mansas e medrosas!
As víboras rojando s'enroscavam
Pelos membros dos homens, sibilantes,
Mas sem veneno... a fome lhes matavam!
E a guerra, que um momento s'extinguira,
De novo se fartava. Só com sangue
Comprava-se o alimento, e após à parte
Cada um se sentava taciturno,
P'ra fartar-se nas trevas infinitas!
Já não havia amor! ... O mundo inteiro
Era um só pensamento, e o pensamento
Era a morte sem glória e sem detença!
O estertor da fome apascentava-se
Nas entranhas ... Ossada ou carne pútrida
Ressupino, insepulto era o cadáver.


Mordiam-se entre si os moribundos
Mesmo os cães se atiravam sobre os donos,
Todos exceto um só... que defendia
O cadáver do seu, contra os ataques
Dos pássaros, das feras e dos homens,
Até que a fome os extinguisse, ou fossem
Os dentes frouxos saciar algures!
Ele mesmo alimento não buscava ...
Mas, gemendo num uivo longo e triste,
Morreu lambendo a mão, que inanimada
Já não podia lhe pagar o afeto.


Faminta a multidão morrera aos poucos.
Escaparam dous homens tão-somente
De uma grande cidade. E se odiavam.
... Foi junto dos tições quase apagados
De um altar, sobre o qual se amontoaram
Sacros objetos p'ra um profano uso,
Que encontraram-se os dous... e, as cinzas mornas
Reunindo nas mãos frias de espectros,
De seus sopros exaustos ao bafejo
Uma chama irrisória produziram! ...
Ao clarão que tremia sobre as cinzas
Olharam-se e morreram dando um grito.
Mesmo da própria hediondez morreram,
Desconhecendo aquele em cuja fronte
Traçara a fome o nome de Duende!


O mundo fez-se um vácuo. A terra esplêndida,
Populosa tornou-se numa massa
Sem estações, sem árvores, sem erva.
Sem verdura, sem homens e sem vida,
Caos de morte, inanimada argila!
Calaram-se o Oceano, o rio, os lagos!
Nada turbava a solidão profunda!
Os navios no mar apodreciam
Sem marujos! os mastros desabando
Dormiam sobre o abismo, sem que ao menos
Uma vaga na queda alevantassem,
Tinham morrido as vagas! e jaziam
As marés no seu túmulo... antes delas
A lua que as guiava era já morta!
No estagnado céu murchara o vento;
Esvaíram-se as nuvens. E nas trevas
Era só trevas o universo inteiro.
(Lord Byron)

Me arrepiei todo!XD