fotografia: Sebastião Salgado
Meu Deus, meu Deus por que te abandonei?Porque desde menino me fascinam as trevas?
Que direito ou privilégio
Tiveram estes e não eu?
Sei muito de justiça,
Mas arre!
Quando me tenta a terra
Meus joelhos tremem.
Eu, logo eu que só fito os Andes.
Onde há sob tudo dos céus
Lugar para mim?
Onde está minha glória?
Esta fera que me consome
Será contra mim em meu júri
Que não há maior carrasco
Se não a honra do homem
Seu algoz e defesa.
Eu que tanto conheço da Luz
Clamo aos santos em meu redor.
Que santos?- respondem todos
-Tu és santo!
Eu, logo eu que só fito os Andes.
fotografia: Mitchell Kanashkevich
Quisera, quisera e mesmo
No íntimo quisera que errar
Não o fosse de todo o pecar.
Rima, rima pobre rima
Mais pobre é meu coração.
Onde está minha honra?
Ainda está amigo, sob minhas patas
-Carrega teu julgo condenado.
Sem fé em quem me acuda:
De bom grado, de bom grado.
Eu, logo eu que só fito os Andes.
Em chegando ao máximo
Já não posso suster toda ruína
Como se dos picos fosse ainda acima.
Meretriz de sacrilégios
Tem sido esse caminho
De minha boca cuspo rosas.
Aqui há perigo.
Se de mim saem rosas
É que no introspecto há morte
E todo o lodo das carnificinas
Eu, logo eu que só fito os Andes
Não há limites para mim
Que não fosse o poder que não tenho.
Afora tudo de perverso nada retenho.
De tudo, porém me nauseio,
Do prazer da vida do meio
Perseverar é minha sina
Pouco importa a rala fé
Toda desgraça
Análoga à desgraça da ruína
É o escravo em deleite nos grilhões.
Eu, logo eu que só fito os Andes.
-Abimael Oliveira
Nenhum comentário:
Postar um comentário