fotografia: Piotr Kowalik
Trata-se de uma ilusão voluptuosa aquela que faz o homem crer que encontrará
prazer maior nos braços de uma mulher, cuja beleza corresponde aos seus anseios, do
que nos braços de outra, ou até mesmo aquela que o convence firmemente — se
endereçada exclusivamente a um único indivíduo — de que possuir tal mulher lhe
proporcionará uma felicidade efusiva.
Se olharmos [...] dentro do turbilhão da vida, perceberemos todos ocupados em
sanar a miséria e o flagelo que os atingem, empregando todas as suas forças para
satisfazer as ilimitadas necessidades e evitar toda sorte de sofrimento, sem contudo
poder esperar outra coisa além da preservação dessa existência atormentada e
individual durante um curto período. No entanto, no meio desse tumulto, vemos os
olhares de dois apaixonados se encontrarem ansiosos: mas por que será que parecem
tão secretos, temerosos e furtivos? Porque esses apaixonados são os traidores que, às
escondidas, visam perpetuar toda a miséria e os esforços que, do contrário, logo
alcançariam um fim; um fim que querem impedir do mesmo modo como seus
semelhantes o impediram anteriormente.
SCHOPENHAUER, Arthur. A arte de insultar. Pág. 14