(fotografia: Piotr Kowalik)
Foi embora. Foi assim, como quem diz até amanhã, ou até a próxima, na esperança de nunca se cruzar na rua. Eu fiquei. Não sei como, porque fiquei. Que eu sei?
Até minha saudade é diferente todo dia
Cada sol que bebo anoitece meus olhos
Meu semblante é penumbra sobre fuligem.
Peço que cante baixo a natureza, favor.
Os sonhos, que já não sonho, comprimem minha cabeça.
Eles berram de fora de mim: deixe-nos existir.
Ah, Deus, existir. Existir é só o que pedem.
Nem felicidade no fulgor da noite, nada.
Há de valer um sonho que nada quer?
Abimael Oliveira