quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

História triste de cravo

Essa história é fantasiosa,estranha e pouco contente
É a história de um cravo que amava uma rosa doente.
Os dois amantes se conheceram nos jardins de Menecel,
Ela cabisbaixa,taciturna e ele virado para o céu.
Mas certo dia a rosa – que de rosa era vermelha-
Recebeu um recado,carta de amor d’uma pequena abelha.
Eram duas ou três coisas de cravos,seu charme,verso:
“Bela rosa,outra igual não há,no amor estou imerso.
Sempre ao lado e nunca te notei,és perfeita,hoje sei
Não vejo resplendor em meu luar,nem o Sol- astro rei-
Trás luz à minha vida.Sou teu como pétalas já são tuas.”
A rosa acabara de sair de um caso profundo com um cacto,
Ela o amava,era radiante,tinham até um pacto:
“Amor para sempre,que seja só nosso e permanente”.
Mas nem as magnólias sabem o motivo,o caso acabou,
O cacto resistiu,feroz,mas a bela rosa murchou.
Às palavras do cravo ela com mais raiva se fechou:
“Todos querem minha beleza,mas não me tem verdadeiro amor.”
O cravo perdeu raízes,mas não desistiu,se era amor,ia haver dor.
Repetia todos os dias que lhe amava,trazia tudo que era belo
Para mostrar seu amor,sempre fiel,sempre singelo.
Até que um dia a rosa o amou,era dia de sol,muito quente
A rosa sorriu,o mundo floresceu,tudo excelente.
Mas o amor é puro,não previu os planos do Menecel.
Menecel queria uma bela rosa,homem cruel,
Ia levá-la à amada sua,prova do seu grande amor.
O cravo não percebeu,foi numa noite,que horror,
Cortaram sua rosa,viu as manchas de sangue branco,
Que apontavam a mesa,um vaso,algo com tranco.
Não seria justo,a natureza o prendia à terra,
E seu amor ia embora,sua vida era dela,isso agora era guerra.
Ele abaixou-se um pouco e foi tirando as raízes do chão,
“Engraçado - pensou –estamos presos apenas por ilusão.”
Pôs-se de pé meio desengonçado, se equilibrando
Ia caindo,se machucou mas pelo amor,foi andando.
Chegou até a cortina,ficava ao lado da mesa,ia conseguir
Era só saltar,via seu amor suspirar,e quase não conseguia subir.
Escorregando ele foi,subiu mais alto que a mesa,não pensou muito
Pulou pelo abismo,um salto de vida,pela vida,seu amor estava perto
Estabacou-se,mas conseguiu,só faltava abrir o vidro.Como?Era incerto.
Teve uma idéia,amassou suas folhas e fez uma alavanca,era pesado
Com muita força,libertou seu grande amor,de onde estava encerrado.
Não há no mundo imagem mais bela,com mais beijos e abraços
Que aqueles dois nesse momento,nem palavras que descrevam seus traços.
Ele carregou ela no colo,mesmo com folhas amassadas e seus espinhos
Que não sentia dor,mas no caminho a rosa olhou-o e disse baixinho:
“Devo voltar”. O coitado não parou,olhou e não entendeu:
“Por que meu rosa,não me amas?Teu coração já não é meu?”
“Não há mais amor que tu me deste, te amar é o que mais quero.
Mas Menecel,pobrezinho,por sua namorada tem amor sincero.
Ela quer a mim como prova de amor,só assim serão felizes.
Por meu amor,que não quero ver ninguém triste.”
O cravo chorou,que dizer?A rosa foi irredutível,meio que em riste.
A rosa estava doente de amor,amava o cacto,gostava do amor do cravo,
Mas não amava a vida,nem era feliz,mas era boa.Bravo!
Queria agora já que não havia paixão nela,ser objeto do amor!
Então o cravo levou-a de volta,deitou-a em sua cama de algodão,
Cobriu-a com a tampa de vidro,beijou uma pétala.E foi então,
Que entendeu o motivo de sua breve desventura,
Não importava viver,voltar ao jardim?Seria uma tortura!
Cada dia choraria,nem margaridas,nem orquídeas,nada teria beleza
Na vida,seria amargura,triste,cansado sem sua realeza.
A rosa era rainha,majestade de seus dias.Ia ficar ali.
Pouco importa perder a vida por amor,”Por ti,
Minha flor,só por ti.”E da borda da mesa ele voltou,
Não havia o pesar da morte,nem a alma logo lhe abandonou.
Chegou perto,a rosa nada disse.Deitou-se ao lado,
Abraçou seu corpo pequeno:”Agora ouça este condenado”
-Ele falou meio maroto,acariciando o amor da sua morte.-
“Nunca duvide da enormidade do meu amor.Talvez a sorte,
Não sei que nome,me fez te querer,agora não seja covarde,
Te amo e não te abandono,é algo absoluto,te digo que é verdade.”
E eles se casaram,o amor foi juiz,a paixão testemunha,mas não houve arroz
Também faltaram mexeriqueiras ,e gente sem alegria na festa.Logo depois,
Eles se amaram,foi lindo,ela perdeu uma pétala,e espalhou
Pela sala seu perfume,tão encantador,que seu cheiro nunca acabou.

Mas como em toda grande história de paixão,
Tem sempre um que é feliz,e o outro que perde a razão.
Menecel voltou e pegou a caixinha,sem notar o cravo.
E foi ao encontro,era uma pequena praça,com um carvalho alvo.

A moça era só alegria,com um vestido radiante
Cheio de cores.Ele parou perto dela ”Dia brilhante”.
Que besteira pra dizer,ele pensou sem jeito.
Mas ela sorriu e disse ”Tem tudo pra ser perfeito”.
Então ele sentou-se,e ela perguntou animada
“Há tempos eu te disse,no amor eu gosto de ser mimada,
Trouxe aquela rosa que me prometeu?”
“Pelos teus beijos,não só a rosa,meu coração é teu”
Mas quando a moçinha abriu a caixa,que surpresa
Havia uma rosa e um cravo,ela nele presa.
Não foi essa porém a ruína deste caso de enamorados,
Foi um espinho a toa,que o jovem esquecera no vermelho-rosado
Abaixo duma pétala,um espinho furou o dedo miúdo da pequena,
A moça ficou brava,jogou a rosa de volta na caixa e não teve pena
“Ingrato,vim aqui trocar meu coração por uma flor,
E tu me dás uma rosa com espinhos para mostrar teu amor?
Toma essa tola de volta.Tola ela por fazer espinhos,
Tolo tu por dar espinhos,onde só queria um pequeno carinho.”
E nessas frases curtas,destruiu o coração de Menecel.
Coitado,ficou amargurado,jogou as plantas ao céu.
Caíram no canteiro de um arbusto,ela agora mais amassada.
E foi-se embora – coração se afoga com cachaça bem passada-

O cravo sentiu uma lágrima molhar seu rosto e o chão.
Sabia que era a rosa,triste,sua morte,a beleza que guardara fora em vão.
Que fazer?Que dizer para quem perdeu o amor,viveu de paixão,
E agora não tinha nada?Sua alma estava seca.
Ele segurou seu rostinho redondo,molhado e zangado,
E apenas olhou seus olhinhos,não disse nada,só ficou parado.
Não sei o que disse ,mas algo foi dele pra ela no momento.
Então ela parou de chorar,olhou de volta – quase com sentimento?!-
E houve um beijo novamente,finalmente com Amor.
Ou qualquer coisa parecida,mas foi um beijo alegre,isso sim senhor.
Um beijo de pura felicidade,era amor,que era coisa de apaixonado.
Não havia mais nada além d’outro no coração dos amados.
Finalmente,sorrindo ele disse de olhos marejados
“Dona Rosa,ouça bem: só agora percebes o que sempre soube,
Que meu amor é verdadeiro,que n’um só peito não coube.

Só tivemos umas horinhas juntos,e só hoje tu me amou.
Por teu coração duro,nosso amor não durou,
E hoje morreremos os dois,felizes por ser nosso o maior amor do mundo,
Mas seja do passado o que passou.O futuro contudo,
Que não conheço pós morte,é certeza que seria injusto
Se de mim ti afastasse,arrancasse do peito meu bem.”
Quando uma oração,mesmo as de amor,acabam,dizem os poetas "Amém. 
E vai acabando essa história.O fim da vida vai desamontoando a ilusão de querer.
Querer mais que estar aqui pro próximo amanhecer.

Acontece de o vento soprar - Sant’mayara,
E a chuva rolou do céu,e um salgueiro chiara.
O bom frio que alivia a dor e adianta a morte.
E o vento a bradar: Está selada sua sorte.

(Abimael Oliveira- eu)

quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

Do poeta sem palavra...




Ex-poeta

Que resta ao poeta,sem musas?
Seria como um poço seco,cheio só de pó?
Seu coração tornaria mais puro,
Ainda que duro,se nem sangue vertesse?

Que é aquela sombra disforme,
Errando à esmo sem nenhum porte?
-É o poeta,aquele que perdeu a palavra.
É como o lavrador ancião,que já não lavra.
Pobre criatura!Os ventos e cantos
Apura com fé,mas já lhe falta ternura.
Maltrata a soberania concedida,
Com versinho e rima comedida.
É um miserável pedinte entre homens,
Só o desprezo lhe tem em requinte

Onde está o abismo,que não te engole?
E o infinito do mar,ou mesmo sua prole,
Que suas palavras não dissolve?
Vai ao horizonte,e as trevas o envolvem.
Palavras que o mundo movem
Presas à caneta,longe do papel morrem.

(Abimael Oliveira- eu)

Taí uma das tragédias do poeta,perder a palavra.Quando as musas vão embora,levam seus versos,te deixam vazio,sem nada pra fazer com as mãos.

quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

Da história do Eco

(imagem de Rob Gonsalves)

Eco

Eco eco eco
Marreco
Maneco
Boneco
Tudo faz som de eco
Menos marreco que não faz eco algum

(Abimael Oliveira- eu)

É sobre aquele tempo em que as coisas não precisavam de explicação ou lógica,só precisavam ser fascinantes,quando bastava a beleza do inexplicável,desconhecido.Diferente dos adultos que detestam o que desconhecem,temem o desconhecido,e o que eles temem eles tentam explicar e maltratar.Eco é bonito e engraçado,e isso basta pra uma criança.

segunda-feira, 22 de novembro de 2010

A palavra,esse açoite do mundo

Um dia eu tava em casa,lendo coisas do pessoal da antiga -Castro Alves,Voltaire e uns outros- gente bem distante pelo tempo,mas perto por fazer parte da Fraternidade dos Poetas,e pensando.A palavra realmente sempre foi o açoite do mundo,não importando o tempo em que foi usada.Sempre pisa onde dói,na cabeça.Quando um país bem grande ia bater e humilhar outro país pequeno,um cara falou "não importam os motivos da guerra,a paz ainda é mais importante".Quando a gente não podia falar o que pensava um outro disse "posso não concordar com nada que você disser,mas defenderei até a morte o direito de dizê-lo".E ainda tem um monte de frases feitas,versos e textos que foram escritos ou proclamados,que dão uma surra no mundo,um tapa na bunda do narcisismo da humanidade.
Então é mais ou menos assim,a palavra é a segunda coisa mais poderosa que o homem pode criar(a primeira é o amor,em qualquer de suas formas).É o pensamento e o sentimento,se tornando algo maciço,tomando forma .É a palavra o açoite do mundo.