domingo, 23 de fevereiro de 2014

00:50

Acabou nosso casinho.
(Aquarela de Helena Abreu)


Como um salto que de tão alto,
tão rápido cai.
Nem versos, noites ou beijos.
O amor afogou-se em flertes,
comigo atônito por seus atos gentis.
Como uma dama se merece o adjetivo,
como se num aceno à distância,
que ela me "pede em amizade".
Pede com carinho.
Penso nas aquarelas.
Barganho uma coisa que sorria.
A noite segue,
e nós lhe seguimos à sua alcova



Abimael Oliveira

terça-feira, 4 de fevereiro de 2014

Sobre o fim do mundo [MEU]

Se me encontrar um dia adiado, dê-me ao menos a saudade
a que me empertigar no verão e não reclamarei no inverno.
O inverno de meu tempo, eu já vejo antes de despontar
com a tristeza de quem nunca soube se valia na verdade.
Não vale, seja qual for o sacrifício desse monstro gentil.
Aqui os fogos se apagam e em todas as direções há mar.


Abimael Oliveira

segunda-feira, 3 de fevereiro de 2014

Pedaço II

O tempo de hoje me deixa melancólico. Sua passagem se me cansa os olhos e fatiga o corpo. Sinto noites mais longas chegarem e com elas o negro do firmamento que me lembra o negro de teus olhos. Não, a causa de minha insonia não é só uma mulher. Há muito de cansaço pra ser só saudade, e muito de sensatez que seja só desejo. Meu tempo, esse tempo, se me dó n'alma por ser impossivelmente meu. E sabê-lo estar assim, inacabado, é como ter um enorme fardo de ser responsável por uma felicidade que não escolhi. Essa ditadura de sorrir mesmo no luto dos dias. A alegria tem em si um vazio de sentido que é estar ou ter ou fazer o que se deseja e já não haver desejo. E a tristeza de amores, fracassos e tudo que não passa de bruma, tudo isso tem o infinito de querer. O desejo de ser feliz que por não se realizar, não acaba.


Abimael Oliveira

Pedaço I

Ela voltou e eu aceitei. Abri os braços quase sem perceber. Fácil demais. Agora parece que tudo que ela disse quando fugiu foram desculpas vazias. E eu me pergunto porque ela precisou de desculpas. Será que ama o jeito carinhoso e a atenção sem medidas? Não sei se ela me ama ou só está confusa a meu favor. Vou pagar pra ver. Dessa vez e só dessa vez.
Estive embriagado porque a consciência mentia para mim. Dizia que estava tudo bem quando eu sei que está desmoronando. O amor me tratou como ninguém, como sem importância pra se adaptar a indiferença a meu respeito. E eu minto pra mim, finjo que ela só não sabia que me amava. E eu finjo que acredito no que finjo que acredito.
Imagem: filme Network

Os acenos são mudos. Seu beijo não tem sabor. Foi plástico, teve a forma de algo intenso e sensual sem o ser todavia. Nossas línguas juntas e corações separados? Não quero isso; não sei amar pela metade, nem pegar leve. Acho que nunca soube; sempre mais impulsivo do que quis. Se ficar comigo é de alma, quase um pacto pelo teu apego e teu amor nu. Estamos nos despedindo esse tempo todo. Sob abraços, mãos dadas e fotos sorridentes estamos dizendo adeus. Um mais definitivo, aquele que não tivemos coragem de dizer na primeira vez.


Abimael Oliveira