Quando tu dançavas na chuva, me dizia que havia uma divindade ou paz ali. Hoje me ocorreu a hipótese de haver naquelas chuvas você por divindade e o caos por calmaria, e digo isso sem qualquer má intenção, porque num momento de reflexão, pude-se me aperceber que suas irregularidades e impropérios, discutívelmente desprovidas de lógica, são, todavia, sem dúvida que apenas seus. Neste ponto reside a autoridade divina de ser tu a senhora do teu sonhar, e por a mim ter partilhado tal sonho, haver um dia sido também a minha.
O chuveiro demorado hoje foi a única prece que consegui imaginar para acompanhar essas lembranças todas. Senti tão sozinho molhado quanto seco, talvez mais deprimido, ainda que questionável, só que desta vez não foi penitência, porque mantenho o cepticismo sobre ter pecado e mais ainda sobre ter-me arrependido, mesmo estando as coisas em seu atual estado. Atual estado, diz-se isso para registrar que não estão como o deveriam, não é o esperado. Aqui registro também ser o limite, que esse há se se fazer necessário ao final de ouro, não há em ti mais divindade que numa negra mulher de seios fartos, lábios grossos, olhos infantis e os quitutes advindos do olhar do homem para essa ou aquela em especial, entre tantas.
Ao sair do banho sequei a fé, escrevi o que aqui se lê.
Abimael Oliveira