sexta-feira, 9 de agosto de 2013

Até pensei


Junto à minha rua havia um bosque

Que um muro alto proibia 
Lá todo balão caia, toda maçã nascia 
E o dono do bosque nem via 
Do lado de lá tanta aventura 
E eu a espreitar na noite escura 
A dedilhar essa modinha 
A felicidade morava tão vizinha 
Que, de tolo, até pensei que fosse minha 

Ocean Sprout de Vladimir Kush

Junto a mim morava a minha amada 
Com olhos claros como o dia 
Lá o meu olhar vivia 
De sonho e fantasia 
E a dona dos olhos nem via 
Do lado de lá tanta ventura 
E eu a esperar pela ternura 
Que a enganar nunca me vinha 
Eu andava pobre, tão pobre de carinho 
Que, de tolo, até pensei que fosses minha 
Toda a dor da vida me ensinou essa modinha 

Chico Buarque 

quinta-feira, 8 de agosto de 2013

De Teresina para Feira


Vi um rio no céu. As nuvens escuras demais faziam uma das margens, as árvores no horizonte eram o lado de cá. As águas eram o fogo do sol derretido entre ambos, no fim de tarde. Sua foz, o negro em todo o resto.
Essa paisagem eu vi da janela de um ônibus. Muito, muito bela e mais nada. Um amontoado de sim e não que a natureza disse pra formar o bonito, mas não se dava a extrair qualquer sentido. Era muda.
Me lembro que a isso chamam de contemplação - o vazio de sentido que se admira. Aqui brinco com minha vaidade, fecho os olhos e penso que isso é um espelho de mim.


Abimael Oliveira

09:29

Está claro como o restante desta folha sem tinta. Foi a visita de uma paisagem que não acreditava haver guardado. Como um sonho mal planejado, que não devia ser sonhado. Belo como o conforto de qualquer calor em um frio absoluto, as lembranças de nossos momentos vieram reluzir em meus olhos marejados. Não chorei, mesmo tentando ao máximo - o que gerou uma contorção de meu corpo inteiro. Não conseguia me concentrar em mais nada além dessas memórias, como um meio de fazer existir algo que nunca permiti.


Abimael Oliveira