quinta-feira, 19 de dezembro de 2013

22:25

Réquiem para um esquecimento

Onde eu estava quando te esqueci?
Em que rua, que viela ou sombra
foi em que esqueci teus beijos?
A vida abandonou teus olhos na minha lembrança.
Isso me assusta. Uma flor é pó,
um astro se apagou e tudo é apatia.

Havia um tempo,
meu show só tinha você.
Com todos os meus erros,
repetindo na cabeça uma culpa
pela imperfeição dos meus abraços,
pela força vazia nos meus lábios,
eu trazia a esperança no cataclisma.
Um fim de mundo toda vez
que não era eu, e o recomeço
no improvável, nas mentiras que eu gosto.

Onde você estava quando te esqueci?
Com que serventes buscou os sentimentos?
O prazer inócuo dado por mim sem limite.
Não pode ter sido um erro,
não deve ter sido só uma lembrança,

nunca é nada.


Abimael Oliveira

terça-feira, 5 de novembro de 2013

21:39

Morena, você emprestou seus cabelos à noite?
Ou talvez teus olhos escuros comeram estrelas
pra no céu eu só ver tua alma brilhando mil pontos.

Agora entendo porque os poetas amam à noite.
Nela tudo é metáfora, nada é só amar, só prazer,
só saudade, nada é banal e tudo é repetido.
Foi assim que cheguei a te escrever qualquer ode velha
de paisagem antiga pra relembrar
o amor que já professei. Sou velho
em te amar, mas essa noite escuda me dá um medo
infantil.

Me sinto criança buscando o seio conhecido
de outrora, o calor da segurança travestida de carinho.
Saudade da morena que me guarda no peito.



Abimael Oliveira

segunda-feira, 7 de outubro de 2013

05/10

Quando tu dançavas na chuva, me dizia que havia uma divindade ou paz ali. Hoje me ocorreu a hipótese de haver naquelas chuvas você por divindade e o caos por calmaria, e digo isso sem qualquer má intenção, porque num momento de reflexão, pude-se me aperceber que suas irregularidades e impropérios, discutívelmente desprovidas de lógica, são, todavia, sem dúvida que apenas seus. Neste ponto reside a autoridade divina de ser tu a senhora do teu sonhar, e por a mim ter partilhado tal sonho, haver um dia sido também a minha.
O chuveiro demorado hoje foi a única prece que consegui imaginar para acompanhar essas lembranças todas. Senti tão sozinho molhado quanto seco, talvez mais deprimido, ainda que questionável, só que desta vez não foi penitência, porque mantenho o cepticismo sobre ter pecado e mais ainda sobre ter-me arrependido, mesmo estando as coisas em seu atual estado. Atual estado, diz-se isso para registrar que não estão como o deveriam, não é o esperado. Aqui registro também ser o limite, que esse há se se fazer necessário ao final de ouro, não há em ti mais divindade que numa negra mulher de seios fartos, lábios grossos, olhos infantis e os quitutes advindos do olhar do homem para essa ou aquela em especial, entre tantas.
Ao sair do banho sequei a fé, escrevi o que aqui se lê.


Abimael Oliveira

terça-feira, 24 de setembro de 2013

18:25



Quando a chuva nadava em seus cabelos
e o Sol se escondia nos seus olhos,
algo de muitas eras me fez ver,
como hoje não saberia, talvez, rever
Tu eras Eurídice,
trazia a melodia das minhas e tua alma
O universo inteiro fez um coro baixo.

Cantava ao meu ouvido mais como amante que musa
Me fez rei, agora sou Damócles.




Abimael Oliveira

sexta-feira, 9 de agosto de 2013

Até pensei


Junto à minha rua havia um bosque

Que um muro alto proibia 
Lá todo balão caia, toda maçã nascia 
E o dono do bosque nem via 
Do lado de lá tanta aventura 
E eu a espreitar na noite escura 
A dedilhar essa modinha 
A felicidade morava tão vizinha 
Que, de tolo, até pensei que fosse minha 

Ocean Sprout de Vladimir Kush

Junto a mim morava a minha amada 
Com olhos claros como o dia 
Lá o meu olhar vivia 
De sonho e fantasia 
E a dona dos olhos nem via 
Do lado de lá tanta ventura 
E eu a esperar pela ternura 
Que a enganar nunca me vinha 
Eu andava pobre, tão pobre de carinho 
Que, de tolo, até pensei que fosses minha 
Toda a dor da vida me ensinou essa modinha 

Chico Buarque 

quinta-feira, 8 de agosto de 2013

De Teresina para Feira


Vi um rio no céu. As nuvens escuras demais faziam uma das margens, as árvores no horizonte eram o lado de cá. As águas eram o fogo do sol derretido entre ambos, no fim de tarde. Sua foz, o negro em todo o resto.
Essa paisagem eu vi da janela de um ônibus. Muito, muito bela e mais nada. Um amontoado de sim e não que a natureza disse pra formar o bonito, mas não se dava a extrair qualquer sentido. Era muda.
Me lembro que a isso chamam de contemplação - o vazio de sentido que se admira. Aqui brinco com minha vaidade, fecho os olhos e penso que isso é um espelho de mim.


Abimael Oliveira

09:29

Está claro como o restante desta folha sem tinta. Foi a visita de uma paisagem que não acreditava haver guardado. Como um sonho mal planejado, que não devia ser sonhado. Belo como o conforto de qualquer calor em um frio absoluto, as lembranças de nossos momentos vieram reluzir em meus olhos marejados. Não chorei, mesmo tentando ao máximo - o que gerou uma contorção de meu corpo inteiro. Não conseguia me concentrar em mais nada além dessas memórias, como um meio de fazer existir algo que nunca permiti.


Abimael Oliveira

terça-feira, 23 de julho de 2013

26/04

Do silêncio eu fiz verso,
e a palavra gemia nesse escuro,
arranhava minha pele e meus dedos vaguearam
Vadiei pelo branco sem fim de uma página,
só pra ver se anjo, luz ou pérola
pegasse em minha mão e me fizesse dizer
coisas bonitas com o que queria dizer
Não veio, e ainda assim escrevo
O verso ainda vive e a poesia se faz sem mais que a gente lhe peça

Não há guia pra mim
Minha caneta te quer
e descreveria o banal e o divino de teus sorrisos,
esqueceria do erro de tua carne,
que carne somos já em erros.

Slava


A tinta tomou ar, quer voltar e dizer coisas que diria eu se amasse, sentisse ou pensasse algo mais que o sentir do outro que escreve, e ama, sente e pensa. Minha vida é a consciência disso. De haver essa consciência e eu ter aceitamento nela, vem a felicidade, e de pular de um outro a outro vem a loucura, o medo e me perco


Abimael Oliveira

00

Não há um só lugar onde possa gritar.
O grito, como entidade, quer viver
ter consciência de si e de estar.
Consumiu todas as minhas vísceras
e agora bebe meu sangue, nutre-se.
Sinto meu corpo ou o mundo tremer ao redor
Desespero diz quem sou, me chama pelo nome
Eu choro, mas não minto mais.
Eu sou meu grito


Abimael Oliveira

domingo, 9 de junho de 2013

Melancolia

Creio a felicidade ter encontrado seu caminho entre meus dedos e fugido de meu aperto na última vez em que ouvi sua voz. Como uma pedra banhada pelo mar em seu primeiro mergulho, descobriu-se mais areia que rocha. E nenhuma intempérie esqueceu de passar pela depressão que poderia ficar, de forma a não mais se distinguir ter havido um dia tal pedra.

Abimael Oliveira

sábado, 20 de abril de 2013

23:05

Obra: Banksy

Se não te brindaram em estrofes,
se esqueceram do teu infinito de ternura,
se abrandaram a ferocidade de seus amores,
se houve por um momento dissabor nas palavras
que adornaram sua entrada nos sonetos.
Peço hoje que não amaldiçoe nós, poetas.
Haverá um dia em que te cantarão em liras,
quando teus cabelos serão tolhidos em girassóis
e alimentarás, tu, todos os haikais.
Espera mais um tanto, haverão trombones nos trovões
e um blues escorrendo sua silhueta
vai criar poças, rios e por fim
serás envolta em tanto amor, que já não existe tu e verso.
São uma só palavra

Abimael Oliveira

sexta-feira, 8 de março de 2013

23:07

Amada de meus dias, sonho travestido de quimera do meu amor.
Deita hoje com a cabeça entre nuvens, que é onde a forma do que é belo se faz desenhar.
Meus versos são longos, como também minha alegria ao lembrar suas feições
O frio da noite me faz lembrar das brasas em seus lábios
e isso acalma meu espírito, não me deixando pensar em nada que não clame leveza.

Uma criatura como tu,
é vista na beirada em que acabam os delírios,
lá onde se forma o fio d'água que rega campos
de todas as flores que não perfumaram os seios de moças gentis.



Abimael Oliveira